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terça-feira, 27 de outubro de 2009

Juiz de Direito, de cargo, corpo e alma

Ao completar 10 anos de magistratura, o Professor Guilherme Madeira escreveu este texto inspirado e inspirador, onde vê-se que a importância e a estatura do cargo não são maiores que a importância e a estatura do ser humano.

                    "Há exatos 10 anos tomava posse na magistratura de São Paulo junto com os colegas e amigos aprovados também no 172º concurso da magistratura. Longo tempo se passou desde então e muitas coisas aconteceram.
                    Nesse período, pude ver como o direito pode ser libertador e também como ele pode esmagar as pessoas com seus entraves burocráticos e kafkianos.
                    Tive experiências maravilhosas e outras nem tanto.
                    Pude conceder adoção de crianças sem grandes perspectivas na vida a casais maravilhosos. Pude também lidar com questões envolvendo direitos difusos em temas intrincados como o caso da queimada da cana de açúcar. Da mesma forma, pude absolver pessoas injustamente acusadas de crimes e condenar outro tanto dentro do processo justo.
                    Cometi erros também, alguns administrativos outros jurisdicionais. Mas este é um detalhe que não pode ser esquecido: julgamos como homens que somos e então a falibilidade se faz presente. Oro sempre para que, onde quer que eu tenha errado ou volte a errar, os danos, se não forem corrigidos pelo Tribunal, sejam os menores possíveis.
                    O garoto aprovado com 23 anos naquele concurso também mudou muito no aspecto pessoal: casei, descasei e casei de novo, sempre com a mesma mulher (triunfo da esperança sobre a razão, já disse alguém). Além disso, tive uma filha maravilhosa, que ilumina cada segundo da minha vida. Enfim, só tenho a agradecer por tudo isso.
                    Aos amigos do concurso, fica sempre a vontade de revê-los todos, mas nossas vidas atribuladas não nos permitem neste momento maiores concessões. Mas, a todos do 172 fica o forte abraço na pessoa de cinco grandes amigos: Carrer, Cassio Ortega, Fernando Henrique Pinto, Marshall e Fabiana.
                    Muitos me perguntam porque eu continuo a ser juiz e porque não largo a carreira para me dedicar à docência por completo e à advocacia, onde certamente ganharia mais dinheiro.
                    Para estes, vale a mesma resposta dada por cada um dos aprovados naquele 172 Concurso: sou juiz porque eu adoro ser juiz. Poucas coisas são tão gratificantes na vida quanto ser pago para ajudar as pessoas a resolverem seus problemas: salário do mundo pagaria cada uma das cartas que recebi nestes 10 anos de magistratura enviadas pelas pessoas que, de alguma forma, tive o privilégio de ajudar. E, quem sabe, quando encontrar com o criador alguma destas pessoas possa sair em minha defesa, atenuando todos os pecados que cometi.
                    Enfim, pessoal do 172º, parabéns a todos nós e, como sempre digo, força e fé, amor pro que der e vier."

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