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sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Artigo: "Na Indonésia, brasileiro morre, terrorista vive"

*Fonte: Folha de São Paulo / Patrícia Campos Mello.
*Patrícia Campos Mello é repórter especial da Folha e escreve para o site, às sextas, sobre política e economia internacional. Foi correspondente em Washington durante quatro anos, onde cobriu a eleição do presidente Barack Obama, a crise financeira e a guerra do Afeganistão, acompanhando as tropas americanas. Em Nova York, cobriu os atentados de 11 de Setembro. Formou-se em Jornalismo na Universidade de São Paulo e tem mestrado em Economia e Jornalismo pela New York University. É autora dos livros "O Mundo Tem Medo da China" (Mostarda, 2005) e "Índia - da Miséria à Potência" (Planeta, 2008).

Salvo um milagre, no domingo à noite, meio da tarde aqui no Brasil, o brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, 53, será executado por um pelotão de fuzilamento na Indonésia.
Marco foi preso no aeroporto de Jacarta em 2003, ao tentar entrar na Indonésia com 13 quilos de cocaína escondidos nos tubos de uma asa delta. Em 2004, ele foi condenado à morte por tráfico de drogas.
No domingo, Marco será conduzido a um local secreto. Lá, ele terá que vestir um avental branco.
Marco poderá escolher se prefere ficar sentado ou em pé. Pode optar entre usar uma venda nos olhos ou um capuz.
O pelotão de fuzilamento é composto por até 12 pessoas, mas apenas três rifles são carregados com munição de verdade, e o restante com balas de festim. Eles ficam a uma distância de cinco a dez metros, segundo informações da Anistia Internacional.
De novo, salvo um milagre, será a primeira vez na história que um brasileiro será executado por um governo estrangeiro.
A presidente Dilma Rousseff vinha tentando desde sexta passada (9) conversar por telefone com o presidente indonésio, Joko Widodo. Até a noite de quinta (15), ele não havia retornado.
Dilma queria pedir pessoalmente clemência para Marco.
Há precedentes.
Em 2012, o ex-presidente Susilo Bambang Yujhoyono comutou a pena de Deni Setia Maharwa, indonésio condenado à morte por tentar levar 3,5 quilos de heroína e 3 quilos de cocaína para Londres em 2000. Ele passou a cumprir pena de prisão perpétua.
Mas o governo brasileiro sabe que as chances são mínimas.
O atual presidente, Widodo, elegeu-se com uma plataforma de endurecimento do combate às drogas e grande parte da população apoia a pena de morte para tráfico.
"Vou rejeitar todos os pedidos de clemência apresentados pelos 64 condenados à morte por tráfico de drogas", disse o presidente indonésio dia 9 de dezembro em um discurso em uma universidade. Segundo ele, essas 64 execuções eram "necessárias" porque a Indonésia está em um "estado de emergência por causa das drogas", que matam pessoas diariamente.
Outra que pode ser executada em breve é Lindsay Sandiford, uma avó britânica de 58 anos, que teve seu pedido de clemência rejeitado. Ela foi presa tentando entrar em Bali com 4,8 quilos de cocaína. Lindsay diz que foi ameaçada e levou as drogas por medo de matarem seus filhos. E colaborou com a polícia indonésia na investigação.
Organizações de direitos humanos, que se opõem à pena capital em qualquer circunstância, ressaltam que tráfico de drogas não é um crime violento.
O fato é que a lei é dura contra uns, não tão dura contra outros.
Umar Patek, extremista islâmico que admitiu ter fabricado as bombas usadas nos atentados de Bali, que mataram 202 pessoas em 2002, escapou do corredor da morte. Foi condenado a 20 anos de prisão.
Enquanto isso, Marco Moreira muito provavelmente vai morrer.
Faz algum sentido?

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