Quando fui convidado a escrever estes artigos semanais aqui no Noticiarama.com, chamado a conversar com vocês de direitos e do próprio Direito, a proposta era abordar temas o mais atuais possíveis.
Nesta semana pensava sobre o que escrever até o último momento em que, lendo e relendo os temas e assuntos propostos por vários leitores (envie você também para o e-mail: carlosrf@estancias.com.br), me detive, me vi envolvido pelo sorriso de Domingos Conceição dos Santos, 47 anos, aposentado, usuário de marcapasso e neste momento em que escrevo, com morte cerebral diagnosticada, fruto de um tiro que invadiu-lhe a boca, atravessou seu cérebro e saiu pela parte de cima da orelha direita.
Trágico. Desconfortavelmente trágico.
Tudo porque entre ele e o 1º pagamento de sua aposentadoria, estava uma porta giratória, um segurança bancário.
Certa vez, um escritor disse que não temeria as leis ruins, se estas fossem aplicadas por bons juízes, o que faria com que estas passassem a valer o que estes últimos valiam e estava solucionada a questão.
Primeiro foram os casos de constrangimento causados e a atenção voltada ao Código de Defesa do Consumidor, mas na verdade, no fundo, nada foi feito, e aguardamos que fizessem por nós. Agora são assassinatos, seara do Direito Penal, morte e ponto final.
Na esteira do raciocínio, não seriam temerárias portas giratórias, de segurança, se operadas por bons profissionais, capacitados, preparados, fruto de um condizente treinamento e não o oposto, a falta dele. Reféns da violência originária por um caos social instalado, reféns então de sua própria psique.
Ao que consta, infeliz, trágica e malditamente, Domingos ficou, não volta mais. Ao que consta tudo acabou: a aposentadoria, o marcapasso, a vida também.
Carlos Rafael Ferreira, advogado
Artigo publicado no site Noticiarama às 09:29 (08/05/10)
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